quarta-feira, 12 de setembro de 2012
MELHOR NÃO OLHAR
Tenho um carinho especial por cachorros. Vira-latas, de preferência.
Hoje vi um destes tentando atravessar a avenida movimentada (vemos
tantos todos os dias que quase não os percebemos: são como postes,
como carros, como muros). Passei por ele, dei uma olhada pelo
retrovisor e segui adiante, irremediavelmente cativado por sua
expressão atenta e assustada. Notei seu rabo meio encolhido, suas
orelhas levantadas, suas patas prontas para correr. Envolvia-o o
zunzum dos carros. Tentei me tranquilizar pensando que os vira-latas
já se acostumaram a esta circunstância moderna que é atravessar o
sinal: já sabem a hora de correr, já sabem para onde olhar,
distinguem o sinal verde do amarelo. Engano, claro. Por mais
acostumados que estejam, são tão falíveis como nós, humanos, que
nunca dominamos completamente uma situação. Pois bem. Passei por
ele e dei uma olhada pelo retrovisor. Vi que estava indeciso. E
preferi não olhar mais.
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