terça-feira, 24 de julho de 2012
SANGUE DE BARATA
Fraco, absolutamente fraco. Se me pegasse, se
me batesse; se se levantasse dessa cadeira imediatamente e me
perguntasse onde eu estava e com quem; se dissesse que tem vergonha
de mim e mais do que vergonha, nojo; se, enfim, mostrasse que tem
sangue de verdade, como os outros homens, e não sangue de barata; se
não abaixasse a cabeça, se não assumisse uma atitude que já sei
exatamente qual é desde que começo a subir as escadas, desde que,
aliás, abro a porta de casa, e na verdade desde muito antes: desde
que saio de casa e digo que vou demorar.... Mas não. Não vai fazer
nada disso. Vai fazer a mesma coisa de sempre: vai sorrir (não sei
por que também sorrio; sorrio por pena, acho; sorrio por convenção,
para tornar menos aguda a tristeza do nosso convívio). Trocaremos
palavras amenas e então irei para o meu quarto. Ele ficará à
janela, como sempre. E mais tarde, à noite, na cama, vai me desejar
boa-noite, um boa-noite triste, como se me culpasse (ou pior, como se
se desculpasse). E no dia seguinte, de manhã, vai me dar bom-dia,
como todos os dias. Bom-dia! Como se nada tivesse acontecido ou como
se quisesse acreditar que nada aconteceu.
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