quarta-feira, 13 de junho de 2012
DE UMA FOTO
Poucas
vezes o famoso escritor parece à vontade diante das câmeras, e esta
não é uma delas. Seus lábios estão crispados num arremedo de
sorriso (só a convenção indica que sorri) e seus olhos, embora
benévolos, pacientes ou resignados, não disfarçam seu desconforto.
Sorri, o famoso escritor, porque nessas circunstâncias parece que é
de bom tom sorrir. Nota-se, porém, que seus olhos atravessam
a câmera, o fotógrafo e o leitor e perdem-se mais além, talvez em
casa, talvez no sofá, talvez na cama. Sim, talvez gostasse de estar
na cama agora o famoso escritor. É como se nesta foto, ainda mais
que nas outras, não conseguisse disfarçar o constrangimento de o
considerarem, que bobagem, um grande escritor. Está representando um
papel, o famoso escritor, e sente-se canastrão nesse papel, como,
aliás, em qualquer outro em que o queiram colocar que não seja o
seu próprio, o de escritor apenas, sem adjetivos.
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