segunda-feira, 25 de junho de 2012
INFÂNCIA
Houve
uma tarde em que minha mãe me levou ao colégio em que ela ensinava.
Parece (creio que me disseram depois) que ela não tinha com quem me
deixar em casa. Lembro que ela me sentou sobre o birô, lembro da
imensa lousa verde, embutida na parede, e lembro também que fiz
sucesso entre seus alunos. De mais nada me lembro, só disto: era de
tarde, eu sentado no birô, a lousa verde enorme, as palavras
carinhosas dos alunos. Vem-me à mente outra lembrança daquele
colégio, sem dúvida de outra ocasião: estou à beira de uma quadra
ao ar livre e meus pais estão ao meu lado, conversando com algum
adulto. Observo outras crianças correndo pela quadra em trajetórias
caóticas, desordenadas. Não posso dizer se ouvia seus gritos ou se
os estou imaginando agora, para completar o quadro. Que coisa
comovente é a infância! Hoje, quando vejo um bebezinho ou uma
criança no colo do pai ou da mãe, perscrutando o mundo com olhos
arregalados, comove-me pensar que sua memória guardará, desses momentos, imagens nebulosas, manchas coloridas, sons confusos. Minha
mãe me sentou no birô, na sala de aula. Quantos anos eu tinha? Não
faço a menor ideia. Talvez três ou quatro. Antes disso, do que me
lembro? De borrões, de imagens vagas. Sequer posso garantir que
aconteceram antes do episódio do colégio. Que coisas eu vi quando
era ainda mais novo? Que coisas eu vi quando tinha seis meses?
Quantas pessoas se debruçaram sobre mim, falando, cantando, me
fazendo mimos, enquanto trocavam minhas fraldas? Que coisas eu vi –
que rostos, que expressões – quando, ao colo dos meus pais,
debruçado sobre seus ombros, meus olhos se surpreendiam com a
diversidade do mundo?
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