sábado, 30 de junho de 2012

SÃO PEDRO

Já ninguém vem se hospedar na pousada. O frio e a chuva, mesmo poucos, espantaram os turistas que, nessa terra de muito sol e calor, querem apenas muito sol e calor. Choveu a noite inteira e agora estiou. É noite de São Pedro. Os carros passam, lentos, fazendo barulho nas poças. Sei que há fogueiras nas ruas, e fumaça. Da janela do meu prédio observo o pátio da pousada, onde uma noite vi turistas de várias nacionalidades reunidos num sarau animado e confuso. Agora, no pátio, varais estendidos de uma ponta a outra dos muros ostentam roupas e lençóis que oscilam lentos na brisa fria. Daqui a alguns meses os varais e as roupas e os lençóis desaparecerão. Daqui a alguns meses o pátio estará cheio de gente de novo. Daqui a alguns meses as vozes e o barulho da música (“É forró de pé-de-serra”, dizia a morena brasileira para o gringo que não entendia nada, que parecia contente só de olhar para ela, só de sonhar com a promessa daquela noite de sexta-feira) subirão novamente até a janela do meu quarto. Por enquanto há silêncio na pousada. Seus donos estão lá dentro, sem dúvida encolhidos diante da televisão. No pátio oscilam as roupas e os lençóis. Ao lado, para além do muro branco, os carros fazem barulho nas poças. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário