segunda-feira, 5 de março de 2012

ADEUS, MENINA

Nós a vimos no Píer 11, sentada num banco de madeira. Era um dia frio, de céu de muitas nuvens: um dia frio e ventoso, como costumam ser os dias de inverno em Nova Iorque. Loira, cabelos cortados à altura do pescoço, olhos claros, não me lembro se azuis ou verdes. Estava bem protegida: sobretudo beje com a gola levantada, botas escuras. De pernas cruzadas, conversava, por assim dizer, com seu iPhone: enquanto falava, segurava-o com a mão direita diante do rosto. Ah, as maravilhas da tecnologia, pensei. O amor no século vinte e um. O namorado, noivo, marido, sei lá, estava em outra cidade, talvez em outro país, e não havia alternativa ao casal senão matar a saudade através do FaceTime ou de outro software. Nós passamos, fomos até a ponta do pier, tiramos umas fotos do Brooklyn lá do outro lado, contemplamos os plácidos ferries, congelamos um pouco e decidimos voltar. Quando passamos por ela, tinha se levantado e estava girando lentamente sobre o próprio eixo, o celular ainda erguido à altura do rosto: mostrava a paisagem ao amado. Conversava e ria, e em seu riso notei uma nota de tristeza. É justo, pensei. Não é possível estar completamente feliz, ou razoavalmente feliz, quando o amado não está por perto. Era uma tarde de domingo, tinha esquecido de dizer. Um final de tarde de domingo, para ser mais específico. Então imaginem: um final de tarde de domingo, com frio e vento em Nova Iorque. Ela se despediu, guardou o celular e se dirigiu a uma fila ali perto, certamente a fila do ferry para o Brooklyn. Adeus, menina, não nos veremos jamais, eu lhe disse em pensamento. Seguimos adiante, descemos na estação de metrô errada, tornamos a subir, voltamos sobre os próprios passos e enfim acertamos: agora sim, tomaríamos o metrô destino uptown. E qual não foi minha surpresa quando entramos no vagão e eu a vi novamente, sentada de pernas cruzadas. Tinha um ar ausente, como convém às mulheres enamoradas, especialmente se é domingo e se faz frio em Nova Iorque. Não me olhou nem uma vez enquanto chacoalhávamos em alta velocidade rumo aos nossos destinos. Provavelmente sequer percebeu que os estranhos em pé diante dela também tinham estado no píer. Desceu primeiro que nós, dez minutos depois. Pelas janelas do vagão ainda pude vê-la de costas, olhando à esquerda e à direita. Parecia não saber que destino tomar. O metrô ganhou velocidade, afastou-se em direção à Times Square e eu fiquei pensando em como este mundo é pequeno, em como as distâncias são relativas e em como desta vez, sim, eu podia dizer Adeus, menina, não nos veremos jamais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário