quinta-feira, 12 de abril de 2012

MUNDO PEQUENO

Não importa o que você fez nem se você foi grande ou não. Ser lembrado, lembrado de verdade, é coisa para muito poucos. E se você é grande (isto é uma pergunta), e se você tem potencial para ser grande não apenas no seu círculo, mas em outros e mais amplos círculos? E se esse potencial de amplitude não se realiza? Eis aqui, falando para um público interessado, um grande homem. Grande cientista do direito, grande jurista (foi assim que o apresentaram) e sobretudo grande humanista. Velho, diabético, meio surdo. Digno, sem dúvida. Grande cabeleira branca, modos educados, voz professoral. Ei-lo aqui, falando para um público interessado. E ninguém, absolutamente ninguém o conhece, a não ser os seus pares. Seus colegas de trabalho o conhecem. Alguns juízes o conhecem. Angariou também, ao longo da vida digna, alguns inimigos que o conhecem bem – e o detestam. Fora do próprio Estado, porém, ninguém o conhece. Fora, aliás, do círculo jurídico de seu Estado, ninguém o conhece. E é grande, e é humanista. Uma vocação frustrada? Não. O mundo é muito pequeno para o número de grandes homens que o habitam. Morrerá sem que o mundo o conheça, essa sumidade da ciência jurídica, esse grande humanista, sem dúvida digno e honrado e honesto, aqui homenageado, aqui, nesta salinha pequena, com pouco mais de cinquenta pessoas.

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