quarta-feira, 4 de abril de 2012

NOSSO MUNDO PERDULÁRIO

Um dos chocolates de que eu mais gostava, quando era criança, era o Baton Garoto. Como não tinha dinheiro para comprá-lo quando quisesse, costumava (ah, vergonha) chupá-lo como a um picolé, para que demorasse a acabar. Dia desses estive numa festa em que havia uma bacia cheia de Batons. Que riqueza, que mundo perdulário! Eu catava os Batons, um, dois, três, e, enquanto me empanturrava (já estava começando a enjoar) pensava na abundância desavergonhada de hoje em dia. Antigamente, na casa dos meus pais, certas comidas e guloseimas eram raras. O presunto e o queijo prato, por exemplo, eu os considerava iguarias. Era um acontecimento quando podíamos comer um misto-quente. E nem falar em refrigerante! Os ricos, naquela época, não eram tão ricos como os de agora, e sua abundância era menos acintosa. Hoje os ricos são inacessíveis, perdulários e não raro estúpidos. Naquela época os pobres, sempre muito honrados, acreditavam que o fato de serem pobres, e de haverem ricos, era uma escolha divina que não lhes cabia contestar. Hoje se enchem de rancor contra os ricos e mal se contêm, de ganas de os bater e chutar, ao ver as migalhas que caem de suas mesas. Culpa, imagino, do nosso mundo perdulário.

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