“Tantas
coisas acontecem sem que ninguém saiba nem as recorde. De quase nada
há registro, os pensamentos e movimentos fugazes, os planos e os
desejos, a dúvida secreta, as fantasias, a crueldade e o insulto, as
palavras ditas e ouvidas e depois negadas o mal entendidas ou
tergiversadas, as promessas feitas e ignoradas, até mesmo por
aqueles a quem se fizeram, tudo se esquece ou prescreve, o que se faz
sozinho e não se anota e também quase tudo que não é solitário
mas em companhia, quão pouco vai ficando de cada indivíduo, de que
pouco há registro, e desse pouco que fica tanto se cala, e do que
não se cala se recorda depois uma mínima parte, e durante pouco
tempo, a memória individual não se transmite nem interessa ao que a
recebe, que forja e tem a sua própria.”
(Javier
Marías, Mañana en la batalla piensa en mí)
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