“Imagine
estas ruínas à noite”, ela me diz. “Imagine estas colunas que
hoje já não sustentam mais nada, estas três colunas, por exemplo.
Não é verdade que já não sustentam mais nada, sustentam um friso
inútil, que vem de lugar nenhum e vai dar em lugar nenhum. Imagine”,
ela continua, sem me olhar, olhando para cima, para o friso ou para o
céu azul, “imagine”, ela me diz, “a lua lá no alto e tudo
isto aqui vazio, ninguém, nenhum destes turistas barulhentos”, e
faz um gesto para incluir os turistas barulhentos sem olhá-los, “a
lua lá no alto e o silêncio, o silêncio destas ruínas à noite, a
luz tão branca da lua lançando sombras, já pensou”, ela me
pergunta, “a lua lançando sombras no chão ao projetar-se sobre
estas colunas, sobre estes arcos, a pedra fria, branca.” E eu olho
ao redor, observo os turistas barulhentos, os turistas com suas
bolsas a tiracolo, frenéticos em busca de mais uma foto, apontando,
se acompanhados, aquela abóbada, aqueles arcos, aquelas janelas,
apontando para o amigo ou esposa ou mãe ou pai, tão embasbacados
como eles, aquelas magníficas ruínas, ou, se sozinhos, mirando
absortos as ruínas, como que perdidos, como que procurando
localizar-se, apenas mirando absortos aquela abóbada, aqueles arcos,
aquelas janelas para as quais não precisam apontar pois não há
quem siga seu dedo. Volto-me para ela. Continua falando mas eu já
não a ouço, prefiro imaginar, como ela pediu, imagino aquilo tudo à
noite, a luz branca da lua derramando-se fantasmagórica sobre as
colunas, seriam coríntias aquelas colunas, seria aquilo um capitel,
e logo imagino os turistas, os barulhentos turistas, tão felizes,
tão pacificados, tão satisfeitos em sua superficialidade, imagino
esses rebanhos escoando-se lentamente em direção aos hotéis,
imagino-os já no banho, alguns deles já na cama, alguns deles já
na cama, sim, e tudo isto aqui vazio e solitário e branco como a luz
da lua. Ela silencia, olhando ao redor. Nós também voltaremos para
o hotel, penso, voltaremos como os turistas barulhentos, voltaremos
lentos, cansados, bovinos. Mas duvido que satisfeitos, duvido que
pacificados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário