sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

GRACILIANO E BERNHARD

As bibliotecas têm dessas coisas: colocam lado a lado escritores que, de outro modo, nunca se encontrariam. Agora mesmo acabei de receber pelos correios uma encomenda que fiz na Cultura: Graciliano: Retrato Fragmentado, de Ricardo Ramos, e Meus Prêmios, de Thomas Bernhard. Descontado o fato de que Graciliano: Retrato Fragmentado é de Ricardo Ramos, filho de Graciliano, o que importa dizer é o seguinte: o que pensaria Graciliano de Thomas Bernhard, ou vice-versa? Quase não tenho dúvida de que Graciliano reconheceria o valor dos períodos tortuosos, das repetições, de Bernhard. Certamente Bernhard admiraria o rigor e a precisão de Graciliano. Os livros estão aqui à minha frente, um ao lado do outro. Impensável relacioná-los de outra maneira. É verdade que os dois escritores foram contemporâneos durante breves anos, mas não os suficientes para que se conhecessem. Talvez, mas apenas talvez (a possibilidade é tão remota que chega a ser desalentadora), Thomas Bernhard tenha passado os olhos, apenas isso, pelo nome de Graciliano numa revista literária qualquer. Graciliano era grande, Bernhard, grande. Você talvez não tenha sabido, mas era. Você teria gostado de lê-lo. Tal como você, era avesso à hipocrisia. Um grande escritor, avesso à hipocrisia e à bajulação. Fico feliz de apresentá-los. Fico feliz de reuni-los sob o meu teto, na companhia de outros amigos. Passemos à biblioteca.

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