terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O ANTÔNIO, O MARCOS E EU

Ela me chama de Seu Antônio. Hoje de manhã, quando a encontrei, me disse: “Bom dia, Seu Antônio!”, e eu, que não a corrigi logo no começo, que já não vejo como corrigi-la, respondi, simplesmente: “Bom dia, Rosa”. (Rosa é mesmo seu nome, registre-se.) Só que hoje, quando a cumprimentei, aconteceu algo estranho: vi que ela me olhava com um ar divertido. Pensei: será que ela sabe que o meu nome não é Antônio? Será que ela me chama assim só para ver até quando eu resisto? Eu também sou Marcos, aliás. Noutro prédio que frequento, o porteiro me conhece como Marcos. De onde ele tirou esse nome eu não sei, mas o fato é que sempre me cumprimenta assim: Bom dia, Marcos!, ou Boa Noite, Marcos!, e eu nunca o corrijo. (E olha que eu sei, desde o começo, que o nome dele é Damião.) Ser chamado por um nome que não é o seu, se você não se irrita, é algo curioso. A despeito de uma ligeira sensação de alheamento, eu me sinto como se participasse de uma brincadeira: Ahá!, meu nome não é esse, velho! A sensação de alheamento, por outro lado, explica-se da seguinte maneira: é como se eu, naquele momento, fosse outra pessoa. Como seria esse Antônio?, penso, se eu fosse mesmo o Antônio? Seria igual a mim? E esse Marcos, será que seria eu mesmo? E o mais estranho: sem mim, como o Luiz se viraria? Bem. Talvez alguém deva avisar à Rosa e ao Damião que eu não sou quem eles pensam que eu sou. Eu sou o de sempre: a mesma cara, o mesmo corpo, a mesma voz. Só não sou os nomes que eles pregaram em mim. Quase posso imaginar a decepção deles quando souberem que o Marcos, que o Antônio não existe. Quase posso ouvi-los dizer: Puxa, não é o Marcos? Não é o Antônio? (Como se o Marcos ou o Antônio tivessem deixado de existir de uma hora para outra, e isso fosse uma perda terrível.) E, legitimamente irritados, quase posso ouvi-los perguntar: Por que ele não nos avisou?

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