terça-feira, 3 de janeiro de 2012

MINISTRO TEM ESTADO?

Deu nos jornais: o Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, liberou para o próprio Estado, Pernambuco, o equivalente a mais ou menos 90% dos valores pagos em obras iniciadas no ano passado destinadas ao programa de prevenção e preparação de desastres do ministério. Minas Gerais, que de dezembro pra cá vem se acabando debaixo d'água, ficou na metade final da lista de Estados beneficiados, pouco pior que o Rio de Janeiro, cuja região serrana praticamente derreteu por causa das chuvas do início de 2011. Ao ouvir a notícia, lembrei de um episódio acontecido com Graciliano Ramos. (Será que alguém ainda se lembra de Graciliano Ramos? Será que alguém sabe quem foi Graciliano Ramos? Um dia, quando eu tinha meus vinte para vinte e um anos, a irmã de um amigo meu, sabendo que eu admirava o escritor, me pediu um favor. Disse que tinha de fazer um trabalho sobre Gracilianos Ramos e precisava de umas dicas. Sobre alguma obra específica?, perguntei. “Sim”, respondeu, “sobre Capitães da Areia”.) Quando Graciliano foi eleito (a seu malgrado) prefeito de Palmeira dos Índios, em 1927, uma de suas primeiras medidas foi determinar a limpeza das ruas e logradouros públicos, à época tratados como pastos de animais (os bichos perambulavam pelas ruas, sem qualquer restrição) e depósitos de lixo. Caso os donos dos animais não os recolhessem, a prefeitura o faria. Como não é de se estranhar, os bichos permaneceram soltos. Graciliano não hesitou: mandou recolhê-los. E avisou que em caso de reincidência os donos seriam multados e os bichos sacrificados. Acontece que o pai do prefeito, seu Sebastião Ramos, também cultivava o sossegado costume de deixar seus animais soltos na rua, e não acatou a ordem. Graciliano, mais uma vez, não vacilou: multou-o. Ao ser questionado pelo pai, respondeu: “Prefeito não tem pai. Eu posso pagar sua multa. Mas terei que apreender seus animais toda vez que o senhor os deixar na rua”. Cabe então a pergunta: se prefeito não tem pai, ministro tem Estado? Não por acaso, diz-se que o ministro poderá ser o próximo prefeito de Recife. Não por acaso, Graciliano renunciou ao cargo pouco depois de dois anos de mandato.

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