segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

ACOMODAÇÃO

Todos os dias vejo estes lagos. Deste desfiladeiro, observo dia e noite a imensidão desta paisagem. Às vezes está mais escuro que o normal, e chove, e as nuvens descem tão baixo que é possível abrir a porta e deixá-las entrar. Todos os dias me volto para olhar, por trás da minha casa, a densa vegetação, misto de floresta virgem e mato puro, e sobre ela o céu compacto. Bela, esta paisagem. Belos, o jardim e o quintal da minha casa. Mas vivo aqui há muitos anos. Há muitos anos esta paisagem está diante dos meus olhos. Sonho às vezes com casas, com ruas. Sonho com calçadas, com bueiros, com muros velhos. Sonho com postes e com fios emaranhados. Sonho com praias e com planícies. Sonho com grandes arranha-céus. Sonho com pontes, com pistas. Qualquer coisa que não seja esta bela paisagem de todos os dias. Penso que sou ingrato. Ou não: humano, apenas. Sonham com o campo os que vivem no litoral. Os do campo sonham com cidades. Os da cidade sonham com planícies varridas pelo vento, com horizontes distantes. Abro a janela e já não vejo a paisagem: abro a janela e apenas confirmo que o de hoje é o mesmo de ontem. Ah, mente ávida! Será que é de ti negar-nos a paz que nos mandas procurar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário