sábado, 10 de dezembro de 2011

MANHÃ DE SÁBADO


É uma manhã quente de sábado. O céu é de um azul profundo. Umas nuvens ralas perdem-se lá para o horizonte, onde imagino ver três ou quatro palmeiras. Sopra um vento quente, que não sei de onde vem (talvez da praia), um vento que se filtra por entre os edifícios da orla (imagino) e vai chegando, cada vez mais irritado, espremido entre os prédios, até o centro da cidade. Aqui ele sopra de mau humor sobre as casas velhas, de fachadas descascando. E balança, irritado, como se os quisesse derrubar, os mil fios e gambiarras dos postes tortos. As lojas, acanhadas e sujas de poeira, com marquises de zinco, estão cheias de clientes. Alguns conversam parados nas portas, as testas oleosas, as camisas suadas, como se se perguntassem: para onde agora? (Não é aconselhável sair ao sol sem destino certo). O vento sopra sem parar, jogando para o alto sacos plásticos, pedaços de papel e folhas secas. Eu penso que isto aqui poderia ser uma cidade da Índia, ou do Marrocos, ou do Egito. Todas as cidades pobres se parecem sob o sol. Todas as cidades pobres e populosas se parecem sob o sol. Há pouco passei por uma oficina de automóveis. À porta, quatro ou cinco homens provavam óculos de sol. O vendedor, parado diante deles, era um destes ambulantes que perambulam com os óculos pendurados num mostrador improvisado. Entre sorrisos, os homens levavam os óculos ao rosto, e as etiquetas penduradas na ponta de seus narizes lhes davam um ar cômico, de palhaços. Estou parado diante de uma loja, debaixo de uma marquise de zinco. Ao meu redor, dezenas de lojas de motos e de bicicletas. Na rua, carros de todas as condições (predominantemente velhos) estão estacionados em qualquer lugar e de qualquer maneira. A rua, de terra seca, batida, está cheia de restos de papelão, de sacos plásticos, de copos descartáveis e de latas de refrigerante (aqui perto vejo um prato de plástico e uma embalagem de detergente). Parece que um dia, muito tempo atrás, aqui já houve calçamento: vejo pedaços de pedra e de cimento, e paralelepípedos. Um fio de esgoto corre a céu aberto – uma água preta, suja. Então, quase meio dia, o trem passa devagar, apitando. Ninguém se volta para olhá-lo, apenas eu. Enquanto passa, arrastando preguiçoso cinco ou seis vagões de passageiros, vejo umas poucas pessoas às janelas. Algumas, o braço apoiado no peitoril, descansam o queixo na mão. Têm algo de bois, essas pessoas. Tem algo do olhar do boi, resignado e melancólico, o olhar dessas pessoas.

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