domingo, 18 de dezembro de 2011

O BATOM DA JULIA ROBERTS

Eu pensava no batom da Julia Roberts quando ela apareceu. Não a Julia Roberts, claro, mas a mulher que eu esperava. Eu pensava que o batom era, para a Julia Roberts, o elemento mais importante de sua maquiagem. Mais importante que os blushes, mais importante que os cílios postiços, mais importante que os pós. Não fosse pelo batom, eu pensava, a Julia Roberts não seria ninguém. Só com aquela bocona enorme (bonita, vá lá, mas absolutamente pálida e sem graça), a Julia Roberts não faria um pingo de sucesso. O batom era indispensável. Era o ator coadjuvante de sua carreira, e merecia um Oscar. Veja a Julia Roberts em Erin Brockovich, com aquela bocona vermelha, com aqueles peitões empinados (peitões, aliás, que ela também não tem, e que só podem ter sido obra do sutiã): ela era a própria boca. E sua boca era seu batom. Veja agora ela naquele filme, como é mesmo o nome?, aquele do Dr. Jekyll e do Mr. Hyde. Como é mesmo o nome? Mary Reilly, isso. Ali, embora você possa me dizer que a maquiagem tenha sido bolada para desfavorecê-la, ali eu tive certeza de que a Julia Roberts era apenas Julia Roberts. Não sei se você me entende. Julia Roberts não é uma linda mulher. Tenho certeza de que ao acordar ela é igualzinha à Mary Reilly. Claro, não é tão ruiva. Mas certamente é tão pálida e sem graça quanto. Eu pensava se queria acordar ao lado da Julia Roberts, a de Mary Reilly, quando apareceu a mulher a que me refiro, a mulher que eu esperava. Ela apareceu no exato momento em que eu pensava estas coisas, e, como nas revelações, como quando você subitamente compreende tudo, mesmo que tal compreensão não leve você a lugar nenhum, pois você não pode modificar uma vírgula de nada neste mundo, naquele momento eu compreendi que ela, aquela por quem eu esperava, era igual à Julia Roberts. Compreendi, com vergonha, por ela e por mim (mais por mim!), que ela sempre precisaria de um batonzinho, talvez de um blush, quiçá de uns pós para colocar na cara e assim disfarçar sua inegável mediocridade.

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