quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

RELATIVISMO

Embora a rua em que eu moro seja de mão única, muitos motoristas fingem não saber disto, e a trafegam como se fosse de mão dupla. São tão desavergonhados e tão seguros, habitam tão confortavelmente um mundo que só a eles pertence (as regras, segundo seu prudente julgamento, são uma tola invenção de tolos), que quando os vejo vindo em minha direção – surpreendo-me ao ver seus rostos serenos por trás dos para-brisas, sua expressão ausente e confiante –, às vezes sou tomado pela inquietante sensação de que eu é que estou na contramão, de que eu é que estou errado. E o pior é que não adianta buzinar ou dar jogo de luz, pois a única coisa que às vezes consigo é que olhem para mim legitimamente surpreendidos, como se eu fosse um lunático.

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