domingo, 11 de dezembro de 2011

TECNOLOGIA

Quando eu era criança, o máximo de tecnologia que podia haver numa casa eram o rádio, que ainda tinha um certo prestígio, e a televisão. Esta, claro, não tinha controle remoto, e se o sujeito quisesse trocar de canal, imagine, tinha que fazer essa coisa pré-histórica que era levantar-se do sofá e, aproximando-se da tela, erguer a mão para girar o seletor de canais. O mais curioso é que ninguém reclamava. Uma vez, lá para o início da década de oitenta do século passado, meu pai comprou uma televisão Mitsubishi com controle remoto. Nossa primeira televisão com controle remoto! Lembro-me que sentávamos no sofá, diante da televisão, segurando aquela caixinha retangular que continha um único botão em sua parte superior. A gente apertava o botão e o canal mudava – só que em sequência. Se, por exemplo, a gente estava assistindo o canal 7 e queria ir para o 3, tinha que apertar o botão várias vezes, até chegar ao último canal (que, se não me engano, era o 13) e aí reiniciar a sequência, até chegar ao 3. Mas o pior não era isso. O pior era que o controle remoto não era tão remoto assim: estava unido à televisão por um fio. Sério. Hoje parece quase impossível viver sem a tecnologia atual. Quase ninguém mais sabe escrever num caderno, por exemplo. Minha mão mesmo, depois de certo tempo segurando uma caneta, começa a doer. E se uma tempestade solar (basta uma sólida tempestade solar) danificasse todos os nossos satélites? Adeus, internet. Adeus, operações bancárias online. Adeus, transmissão ao vivo de jogos de futebol. E (o horror, o horror) adeus, celulares. Você sabe o que é não poder ligar para alguém? Antigamente, se quiséssemos falar com alguém por telefone, tínhamos que esperar a pessoa chegar em casa. Era comum a gente perguntar: que horas você vai estar em casa? Na rua, o sujeito era virtualmente inalcançável. E as primitivas transações bancárias de alguns anos atrás? O sujeito tinha que ir ao banco, preencher um formulário e esperar horas na fila – e isso apenas para fazer um saque. Que me conste, ninguém reclamava – não mais que hoje. Ninguém, aliás, achava que podia ser diferente. O problema com a tecnologia é que ela cria dependência. Se um dia ela nos faltar, não saberemos o que fazer. Ler um livro, talvez? Levar a cadeira para a calçada para conversar com os vizinhos? Rascunhar bobagens num caderno? Não haverá GPS, nem torpedos, nem compras pela Amazon. Se quisermos encomendar algum produto, vamos ter de fazê-lo à moda antiga. Nas páginas de propaganda das revistas de antigamente havia uns cupons que você tinha que preencher se quisesse encomendar o produto anunciado. Você preenchia o cupom, recortava-o e depositava-o no correio. Você consegue se imaginar saindo de casa para levar um cupom à agência dos correios? Há quanto tempo você não leva uma carta à agência dos correios? Você já imaginou o que é não ter notícias de outra pessoa até que ela lhe escreva – e à mão? (Era de má-educação escrever cartas pessoais à máquina.) Era assim que as coisas aconteciam antigamente. É assim que as coisas podem voltar a ser – basta uma boa tempestade solar. Ninguém mais iria rir do controle remoto com fio.

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