segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

UM SINAL INEQUÍVOCO

Ontem dona Antônia, a diarista, veio limpar a casa, como costuma fazer todas as segundas-feiras. Antes de sair, me perguntou: Por que o senhor sempre guarda os sapatos embaixo da cama? Sem saber o que responder, improvisei uma explicação vaga e, mudando de assunto, emendei: A senhora limpou o armário do banheiro? Respondeu-me com uma cara que me censurava a impertinência da questão. Quando enfim saiu, senti-me incomodado e fui até a varanda. Debruçado sobre o parapeito, me perguntei: por que sempre guardo os sapatos embaixo da cama? Olhei para trás. A casa, como de costume, estava silenciosa; como de costume, o pôr do sol (era final de tarde), pintava a mesma sombra de todos os dias no chão da sala. De repente, sem que eu compreendesse ao certo seu significado, brotou em mim uma resposta (uma das possíveis): os sapatos embaixo da cama, dona Antônia, são um sinal inequívoco.

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