sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

FASCÍNIO

As fotos do depósito da Amazon em Swansea, Wales, são uma coisa de dar medo. Não, não há nada de assustador ali, na verdade – não no sentido comum. O que dá medo (medo é maneira de falar) é a dimensão absurda do lugar: uma coisa irreal, exagerada, de ficção. Isto aí, pensei comigo, é a materialização da globalização. É a globalização (pelo menos em seu aspecto mais positivo) tornada palpável. Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras. Às vezes tenho minhas dúvidas. Mas aqui é o caso de se curvar à imagem. Alguém pergunta: o que é a globalização? E o sujeito vai e mostra as fotos do depósito da Amazon em Wales. Não posso deixar de pensar naquele depósito à noite, quando todos os funcionários já saíram e ficaram apenas, nos cantos, os guardas sonolentos. Deve ter o aspecto de cenário de filme de Indiana Jones: uma daquelas cavernas escuras cheias de tesouros incríveis. Quando eu era pequeno, um amigo do meu pai pediu para guardar no quarto dos fundos da nossa casa umas miudezas de armarinho. O negócio dele havia fechado e, por enquanto, as coisas não tinham destino certo. Meu pai concordou e um belo dia o pequeno tesouro de bugigangas (linhas, agulhas, botões, fitas, caixas, etc.) foi levado para o quartinho dos fundos, onde passou alguns meses guardado, atiçando a minha imaginação. Eu não podia entrar no quartinho: meus pais não queriam arriscar sua reputação de fiéis depositários. Vai que eu levava um botão. À noite, deitado na cama, eu imaginava como estaria o quartinho àquela hora. Que aspecto teria o monte de bugigangas quase da altura do teto, entrevisto rapidamente durante o dia? Ao ver as fotos do depósito da Amazon, senti o mesmo fascínio. Aquilo à noite, pensei, deve ser incrível. Melhor que filme de mistério. Que som produzirão os passos dos guardas quando eles se levantam de suas cadeiras e, sonolentos, percorrem sem pressa os corredores fantasmagóricos? Que impressão darão aquelas pilhas de caixas de dezenas de metros de altura ao sujeito que as olha de baixo para cima? Que sombras aquelas prateleiras produzem à luz tênue de uns poucos refletores? Que tesouros de brinquedos, computadores, livros, dvds, roupas, sapatos e artigos esportivos não há ali? Quanta gente espera ansiosa por aquelas pequenas maravilhas? (Receber uma encomenda, para mim, é a mesma coisa que ganhar um presente.) Não é bom ser consumista, eu sei. Os críticos das sociedades de consumo têm sua razão. Mas quem não gostaria de fuçar, de perder-se, literalmente, naquele mundo de maravilhas?

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